quinta-feira, 20 de junho de 2019

Tradução do que gostaríamos de estar falando mas preferimos falar sobre estatísticas

Notei
Que a vizinha da esquina ama as flores
Toda aquela parede verde, e aqueles vasos coloridos quase sorriem, gratos por serem a única coisa bonita em meio ao asfalto cinza de mais um bairro esquecido pelos nossos governantes vagabundos, talvez eu devesse  ir até lá, e agradecê-los por esse feriado, onde posso observar a rua, e lembrar, ainda que só por uma tarde, que eu ainda tenho uma consciência?!
Olho em volta.. senhor, senhora, não lembro seus nomes. Errei! Além flores imagino a beleza de suas histórias, queria ouví-las, olhando nos olhos e notando suas vozes trêmulas ao pronunciarem as frases que retratam fatos ainda não superados. Desânimo...
Meus erros são tantos, mesmo sendo 3. Deixam meu corpo pesado a noite. Mesmo depois de perceber que a sensação de fracasso é comum e é implantada intencionalmente pelo capitalismo, a dor e a insônia continuaram ali.
Disfarço, enquanto comento com o padeiro sobre o suicídio do vizinho, e do quanto a situação do mercado de trabalho adoece as pessoas, para não ter que dizer que uma delas sou eu, porque isso transmitia vulnerabilidade, e em 2019, na selva de pedra, essa é a última coisa que queremos transmitir.
 Compro os pães, roubo uma flor e vou embora pensando que não valeria a pena verbalizar tudo isso, e torcendo para que amanhã eu possa vender cosméticos, maquiar pessoas, enfeitar a vida de alguém, enquanto finjo que sei exatamente o que estou fazendo com a minha.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Notas sobre a solidão ou considerações sobre 1 feriado

Feriado.
meditei no vazio que é para mim.
neste dia que é especialmente meditável porque algumas pessoas estão tendo demasiada felicidade-ou fingindo ter.
porque, ontem, mesmo sendo quarta,
os bares de quinta-categoria da esquina fecharam mais tarde, com suas luzes piscantes e forró.
Ontem os donos das casas noturnas da rua augusta lucraram mais,
Ontem, talvez, um homem fez planos para hoje.
E uma mulher comprou uma lingerie.
E hoje estão em algum restaurante mediano na paulista -
mão na coxa como se fosse relevante o que ela diz, uma falsidade aceitável, preliminar para que
em uma hora. Sexo.
O ser humano compara a sua vida com outra onde aparentemente o sol brilha mais.
Talvez eu não reconhecesse O Vazio se pensasse sobre as crianças filhas de nem-elas-sabem-quem, que hoje comerão vento.
é que eu sou medíocre, sabe.
prefiro pensar em
Um churrasco na laje, neste feriado, 32 graus, amigos reunidos,
o gosto da cerveja barata singularmente melhor hoje,
e tudo acabará em ressaca, diarreia, uma foda - e quem sabe 1 filho.
Amigos.
Contemplei as perdas sutis da vida,
Dos amigos que já foram muita coisa, e hoje
como se apenas conhecesse.
No oposto de antes, não mantemos contato apesar de ser possível.
Talvez um dia, um de nós abra o aplicativo de celular e haja um convite para um café,
Talvez responda que
no dia em questão, seja missa, ou aniversário do pai do futuro cônjuge, que falta tempo,
mas, no fundo, ambos saberemos que o que falta é sentimento, e ânimo. Vamos
nos despedir com uma promessa de marcar alguma coisa, num dia que nunca existirá

Penso nos bons amigos, que perdi o contato para nunca mais, e se ainda tivesse é
capaz que não nos falaríamos também.
Tudo terminou no ensino fundamental, em um "tchau, boa viagem", na época não usávamos rede social, internet não era tão acessível. Viva a inclusão digital.
Devaneio o que estão fazendo,
provavelmente se empenharam em Ser Alguém.
Espero que um dia nos encontremos num churrasco na laje. Se deus quiser.

Meus amigos são ausentes, mal lembro seus rostos.
A pessoa que amo, dorme comigo as vezes.
Esqueço a solidão.
Ele esquece a dor na
coluna
Enquanto fazemos amor.

Comprei uma cerveja
Desceu amarga e ruim.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um lugar seguro

  É uma tarde chuvosa. Observo o granizo cair por de trás do vidro desse lugar que odeio ter de me esconder. O farol novamente quebrado. Uma batida de carro e palavrões cotidianos. A chuva cai positivamente incessante como idéias na minha cabeça, mas ao contrário dessas, a tempestade é indestrutível. Ouço meu nome em voz indelicada interrompendo meu devaneio, castrando minha produção autônoma. Penso em cuspir em sua cara, mas ao contrário, após filtrar suas palavras, ouço com resignação.

   E na calçada aquele diabo com calças rasgadas passa novamente exalando o fedor do existir sem uma boa ilusão, e todas aquelas pessoas iludidas reclamam do cheiro e riem, afinal, a graça da vida só há quando não nos perguntamos se existe uma razão para levantar todas as manhãs, certo? Eu desejava mesmo cuspir em alguém.  

  A chuva engrossa. Todos se concentram embaixo do toldo, mas talvez eu não quisesse me privar de receber as gotas d’água em meu rosto... Aqui, coberta e segura... Não sinto a vida. 

sábado, 10 de maio de 2014

Sobre Outra Manhã

E então, já é de manhã
Era um sonho bom. Um loiro alto e gentil
Tão inocente e doce como jamais conhecerei
Mas não posso retornar à ele.
Cada passo ao banheiro
Cada mordida num pão
Cada uma das três repetições de café puro.
Meus olhos tremem junto ao ponteiro.
-Saio de casa- 
Caminho rapidamente e sem alguma elegância...
Como disse aquela vaca, me mandando levantar a cabeça
Com sua tinta de quinta qualidade desbotando e deixando transparecer seus fios brancos
E seu sorriso raso com dentes manchados de batom marrom.
Esqueço e prossigo, sem graça.
Meu olhar é baixo e lento.
Penso em tudo que fiz nos últimos dois anos
Tudo para me sentir passada pra trás no final
É tudo frio e sujo.
Aquele velho bêbado no chão, suas garrafas em volta e suas cantadas podres novamente. 
Algumas pessoas simplesmente são incapazes de propagar sentimentos bons.
Percorro algumas quadras
Uma senhora varre sua calçada
Sempre as seis da manhã
Não sei bem o por quê da exatidão do horário
Cruzamos nossos olhares
Que traduz com piedade, e
Vaga tentativa de transmitir sororidade
Ambas sabemos que não há um bom motivo para nada disso.
Não há lixo, não haverão visitas. 
Aquela coitada preenche cada segundo que lhe resta para não ter de lamentar o que vivera até aqui
Detesto aquele relógio perturbador em frente ao ponto de ônibus
Detesto pessoas esbarrando em mim no transporte público
Tão cheio... Não passam de seis da manhã!
E sei do infortúnio do destino da maioria dos humanos compactados naquele lugar.
É. É só mais uma manhã.






sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sobre mim. Ou sobre o que me fizeram.

Revisando  perfis virtuais... Resolvi fazer um "about me" 




  Niilista. Sofri um acréscimo de pessimismo realista depois que comecei a trabalhar. Tenho um estilo de vida pré-determinado. Consumo o que ganho - o que não é muito - para suprir o vazio que o que faço para ganhar o poder de consumir me proporciona. O tempo livre é tão pouco...  Não sei como vai ser  futuro, não me vejo sem sair do lugar, mas também não prevejo a realização dos meus velhos sonhos.  
  Mudei muito no ultimo mês... Gostaria de caminhar no centro de São Paulo e na Avenida Paulista com aqueles mesmos olhos, procurando os olhares dos loucos, que me faziam sentir tão feliz,  camuflada e em casa.  Gostaria de poder acordar cedo no meio da semana de novo, tomar o café saindo do fogão, sentar-me e ser grata pelas simples demonstrações de amor da mãe natureza.  Não leio meus livros, nem socializo mais com os cães de rua. Não ando vomitando vinho barato no chão do quarto, nem frequentando o cemitério para descansar. Não cabulo mais aulas para conversar sobre as armadilhas do mundo na calçada. Não passo o dia com a pessoa que amo não fazendo nada além de amor. 
  Atualmente socializando com pessoas idosas carentes, e descobrindo certo carinho e empatia por elas.  Atualmente, sem olhar muito em volta, seguindo meu rumo como se não houvesse vidas ou paisagens. Atualmente desejando um prozac.  Atualmente, ainda bebendo, mas não mais pra cair. Atualmente, acordando tarde demais para pegar o café.  Atualmente engolindo muitos sapos e me acostumando com isso. Atualmente dizendo coisas sem exatidão, e certas horas pensando exatidões sem dizer. Atualmente sem a mesma paciência e compaixão para com os outros seres viventes. Atualmente, de vez em quando, sendo nocauteada pela minha consciência... Às vezes bloqueando-a, às vezes deixando-a que se comunique e me faça chorar. Atualmente olhando para a vida dos meus semelhantes e notando que o destino não foi injusto comigo como costumava crer, mas pisa quase igualmente nas nossas cabeças a cada dia. Atualmente, quem diria, caçando um lugar pra gritar. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Sistemático.

   Gosto da minha cidade. De observar a diversidade, e da quebra de preconceitos que isso me proporciona.
   Observo rostos apáticos enquanto passeio nos horários de pico e sinto medo.    Todo mundo precisa fazer faculdade, comprar carro, ter um trabalho que proporcione renda fixa invejável, formar família, e continuar visivelmente insatisfeito.

    Sinto-me oprimida desde que fiz quinze anos e minha mãe me levou para ver uma mulher que arrancou brutalmente alguns dos pêlos da minha sobrancelha... Sangrou, doeu pra caralho e desde então me submeto a isso e coisas similares com certa frequência, não para me sentir bem comigo mesma, mas por ser indiretamente cobrada por isso.

    - Competitividade é essencial para quem luta pelos seus sonhos.
    - Monogamia é questão de caráter e qualquer um que tenha desejos diferentes não merece respeito.
    - Consumir inconscientemente é simplesmente o que merecemos fazer depois de trabalharmos tanto.

Engulo a seco princípios sem sentido algum. 

Hoje é só mais um dia qualquer.
Dia de me desesperar e não saber o que fazer.
De me faltar coragem.
De me ofender facilmente com o humor convencional.
De ver gente tendo muito e sendo nada.
E é por essas e por outras que posso afirmar: 

Consciência não se adéqua ao anseio de ser feliz. 


Tradução do que gostaríamos de estar falando mas preferimos falar sobre estatísticas

Notei Que a vizinha da esquina ama as flores Toda aquela parede verde, e aqueles vasos coloridos quase sorriem, gratos por serem a única c...